Dor no seio
A partir do ano de 1994, a displasia mamária e todas os termos que refletiam as alterações patológicas encontradas na mama (adenose, fibrose, doença fibrocística, microcistos, metaplasia apócrina) foram substituídos pelo termo descritivo Alterações Funcionais Benignas das Mamas (AFBM). Clinicamente, a AFBM é caracterizada como dor e/ou espessamento das mamas, de surgimento nos primeiros anos da idade adulta, sob influência hormonal, com intensidade aumentada no período pré-menstrual e que desaparece com a menopausa. As faixa etária mais afetada pela AFBM é a que vai de 30 a 50 anos.
Assim, a AFBM não é uma doença, é apenas o reflexo de atividade fisiológica dos hormônios sobre as mamas durante a idade fértil. A dor, o espessamento das mamas e os macrocistos são as características clínicas mais comuns da AFBM. Eles podem estar associados a várias entidades patológicas.
A principal preocupação para a paciente e para o médico é identificar quais pacientes podem ter câncer. Sabe-se que a diferenciação nem sempre é fácil e muitas vezes requer exames adicionais ou métodos invasivos e dolorosos. Por outro lado, a maioria das pacientes que procura o médico por dor no seio tem não tem doença maligna da mama. Além disso, a dor como fator isolado é má preditora do risco de câncer; em 5% a 18% dos casos de câncer de mama, a dor localizada foi o sintoma inicial que levou o paciente à consulta médica.
Classificação das mastalgias
Mastalgia cíclica leve: dor ou desconforto nos três primeiros dias antes do período menstrual, que chega a acometer até 70% das mulheres. Com o aumento da idade, aumenta o número de mulheres que sofre do sintoma. Em mulheres com mastalgia leve com menos de 35 anos, o risco de ter uma mamografia solicitada é de 3 a 4 vezes maior do que das mulheres sem dor.
Mastalgia cíclica moderada e severa: a dor mamária tem duração superior à uma semana, e tem intensidade importante a ponto de interferir nas atividades da paciente, justificando o uso de medicação.
Mastalgia acíclica: dor mamária que não está relacionada ao ciclo menstrual, pode ser contínua ou ocasional. Mais freqüentemente a alteração patológica encontrada na mama é a ectasia ductal, a adenose esclerosante e a necrose gordurosa. Costuma localizar-se nos quadrantes superiores da mama e é bilateral.
Mastalgia não-mamária: é a dor torácica referida sobre as mamas. Comumente, é dor músculo-esquelética da parede costal, do dorso ou dos membros superiores e que se irradia para a mama. A dor pode também ter origem visceral, como angina cardíaca e colelitíase.
Tratamento
O tratamento da mastalgia inicia-se estabelecer uma relação de tranqüilidade e confiança com a paciente e em afastar a possibilidade de existência de câncer de mama. Muitas das mulheres que procuram uma clínica de mastologia por dor nas mamas desejam saber se sua dor é normal ou se é causada por uma doença grave. A informação sobre a AFBM, a educação em relação ao sintoma e o estabelecimento do vínculo são a primeira linha de tratamento da mastalgia.
Medidas gerais: as pacientes com dor nos seios beneficiam-se do uso de sutiãs ajustados na redução do sintoma. O uso de anticoncepcionais orais e de terapia de reposição hormonal também pode se associar à dor, e ainterrupção da medicação pode trazer alívio do sintoma.
Em 85% das pacientes, o esclarecimento e o manejo tranqülizador são suficentes para o alívio do sintoma. Em outras 15% pode ser necessário o uso de medicação.
Óleo de prímula: postula-se como princípio ativo no óleo de prímula o ácido gama-linoleico, que pode ser comprado na forma industrializada ou ser manipulado e adminstrado na dose de 500mg/dia, por 60 dias. A remissão dos sintomas ocorre em 70% das pacientes, sem efeitos adversos importantes, o que faz do óleo de prímula uma boa opção para o tratamento medicamentoso.
Anti-inflamatórios não esteróides tópicos: quando comparados ao óleo de prímula, os AINES tópicos tem eficácia maior no tratamento da mastalgia (92% vs. 64%) e são uma boa opção às pacientes que não respondem ao óleo de prímula
Agonistas dopaminérgicos: a bromocriptina (2,5mg 2x/dia) e lisurida (0,3mg/dia) bloqueiam a liberação de prolactina pela neuro-hipófise. A taxa de resposta, em estudos não-controlados, chega a 78% para a bromocriptina. Os fatores limitantes do uso são os paraefeitos, como intolerância gástrica e hipotensão.
Antiestrogênicos: o tamoxifeno, o toremifeno e o raloxifeno foram avaliados no tratamento da mastalgia. O toremifeno, em dois ensaios clínicos recentes (aqui e aqui), mostrou-se melhor do que placebo no alívio da dor. Recentemente, uma metanálise comparou os ensaios clínicos randomizados que testaram óleo de prímula, danazol, bromocriptina e tamoxifeno. O óleo de prímula não foi superior a placebo, enquanto a bromocriptina, o danazol e o tamoxifeno foram capazes de melhorar os escores de dor referida. O danazol em baixas doses provoca alívio do sintoma em até 67% das pacientes.
por Cássio Borges
Nenhum comentário:
Postar um comentário